quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Cacos.


E no meio de tantos cacos que tem peso de mil jarros
eu cato toda a história de uma mangueira
que costumava dar frutas,
antes de ser envenenada.
Embaixo das suas folhas se cantava música pop bem alta
e bailava
como se fosse o maior carrossel do mundo.
Amava-se de um amor sem fim
amor de bolinhos de feijão
e mastruz com leite pra curar qualquer dor que lhe aflingisse o peito.
A dona do jarro não sabe que ele se quebrou.
A dona do jarro já possui tantas coisas quebradas, partidas em mil pedacinhos bem significantes.
Precisa-se de novos jarros.
Precisa-se de novos cacos para juntar.
Só assim para entender todos os cacos anteriores.
Um dia eu quero montar um grande jarro
e dentro dele colocar todos os meus cacos.
Nenhum será jogado fora,
nem os mais feios.
Nem aqueles que alguém pisou e transformou em farelos bem miudinhos.
Nem aqueles que eu queria que não fizessem parte do meu jarro.
Até esses eu preciso pôr na minha mala,
talvez ele seja o defeito que sustenta meu alicerce inteiro.
São tantos cacos espalhados que não sei por onde começar.
Ao ir embora seu rosto se enxarcava de água salgada.
Ao ir embora seu rosto se enxarca de água salgada.
Um caco enorme espetou meu dedo
e dói.

É quarta-feira de cinzas, a festa já acabou. Ou começou....