quarta-feira, 20 de junho de 2007

Réplica.


Hoje o acaso errou feio,
colocando a seta bem longe do alvo.
Do texto nunca lido e que ela conhecia tão bem,
muito bem.
Sabia de có algumas réplicas.
Tantas réplicas que a conheciam tão intimamente bem que chegou a pensar que era melhor nunca terem saído da sua boca, da sua entonação.
Malditas e reveladoras réplicas
de mal presságio.
Pelo menos assim soavam, ao saírem de sua língua, naquele tom.
E aquela réplica, tão inocente coitada, não sabia que encerrava alí o fim de um discursso.
Pensando ela estar brilhando esplendorosa em sua pomposa vaidade.
A vaidade das réplicas que pensam bailar sobre o ar, sem nenhum suporte, numa falsa independência.
Que graça tem saber o fim do caminho
quando se caminha rumo ao nada?
Vai embora réplica
mas não diz porque
se não o acaso te busca
e não se sabe o fim da estrada.
Estrada, entrada, cada, nada.

terça-feira, 19 de junho de 2007

Minha estante.


Dorme em cima do ontem,

que amanhã terá tudo de novo.

Na saia suja de poeira velha

daquele ensaio no qual se errou, se acertou e entonteceu

Dos livros que não foram lidos e que serão relidos amanhã.

Na mochila entreaberta na qual se tira e se coloca tudo, sem pudor.

Nos rascunhos de anteontem

Nas músicas do ano passado

Nas contas de todo mês

Junta, acumula, guarda.

Passa por cima do futuro que o passado retorna, sem dó nem piedade, e abala todo o hoje.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Maldito pescoço.


Entre Arthur Miller e Nelson Rodrigues muitas coisas aconteceram.Muitas coisas não aconteceram.

As duas irmãs se amarão um pouco menos e alguns amantes se amarão um pouco mais.

Mary Warren tem medo de que seu pescoço seja quebrado na forca, mal sabia ela que um pescoço pode enforcar muitas horas.

O maldito pescoço.Será assim, sempre assim.

O tempo teme em passar corrido como as horas, mesmo com tanto trabalho,cimento e um certo travesseiro de vidro. Contigo não tenho medo de nada.